Em 18 anos de atuação, o ITCO extrapolou os limites territoriais de Goiás, onde foi gestado e teve início, e vem ganhando o país, com seus diagnósticos bem feitos e planejamento urbano levado a sério, executado por uma equipe multidisciplinar com o olhar treinado para identificar os principais gargalos das cidades e apontar soluções, muitas delas surpreendentemente simples.
Nesta entrevista, o idealizador e presidente do ITCO, Selomar Breda, fala sobre a importância do planejamento, que se consolidou como instrumento de gestão pública, e credita a credibilidade conquistada às pessoas, tanto as que integram a equipe do Instituto, como as que vivem nas cidades e que têm seus anseios, legítimos, que devem ser ouvidos e analisados com respeito e cuidado.
Por que o planejamento assumiu tanta importância?
Historicamente, o planejamento urbano, no início do Século XX, foi identificado como instrumento de política higienista, que visava a sanear as cidades. Posteriormente, emergiu como um instrumento de política para enfrentar as transformações sociais, políticas e econômicas derivadas da emergência da sociedade de base urbano-industrial. O planejamento sempre teve importância, mas acabou sendo deixado de lado pelos gestores ao longo do tempo. Isso tem muito a ver com falta de experiência, pela busca de um suporte mais jurídico do que de planejamento propriamente dito, embora ele já estivesse previsto na Constituição.
Os problemas agora são tantos que têm de ser resolvidos rapidamente. Temos agora mais tecnologia e metodologias que evoluíram e que absorvemos de outras cidades no mundo, como Barcelona, experiências que nossos profissionais começaram a ter no exterior, conhecendo novas tecnologias ambientais. Esse crescimento do conhecimento aliado à tecnologia está proporcionando um melhor planejamento.
O planejamento é um recurso valioso, pois oferece os meios necessários para que o gestor preveja e minimize os fatores que possam inibir resultados, além de maximizar as condições facilitadoras no processo de tomada de decisão.
Qual a importância do planejamento urbano para a qualidade de vida de uma comunidade?
Primeiro é preciso entender que a qualidade de vida é estruturada em vários componentes: ambiental, trabalho e renda, saúde, mobilidade e outros. O Plano Diretor identifica, planeja e organiza esses fatores na cidade, de forma territorial. Se um lugar está degradado, por exemplo, é necessário fazer um trabalho de melhoria do meio ambiente. A questão da educação: as pessoas estão tendo acesso? As escolas estão bem distribuídas dentro da cidade? O plano diretor aponta essas necessidades para o local que está sendo trabalhado e organiza para que todas as pessoas tenham acesso de forma igualitária.
É através do planejamento urbano e de um Plano Diretor que se traça, por exemplo, o zoneamento de um município, evitando-se a ocupação de áreas de risco que possam afetar a segurança, o bem-estar e a saúde dos moradores.
A cidade é um organismo vivo, dinâmico e sensível às ações e omissões dos elementos que a compõe: as pessoas. E apenas com o planejamento é que se torna possível simular o futuro desejado por elas e, assim, antecipar os cursos de ação necessários e os meios materiais e conceituais mais apropriados para atingir os objetivos.
O que é um Plano Diretor?
É o instrumento principal de planejamento de um município. Ele pode oferecer e propiciar, se bem feito e bem conduzido, qualidade de vida para todos. O ideal é que uma cidade cresça de maneira equilibrada, com definições prévias acerca das prioridades do município e das destinações de uso de seu território. É para esse fim que foi criada a exigência de elaboração do Plano Diretor. Trata-se do documento-base de orientação da política de desenvolvimento dos municípios brasileiros. O Plano Diretor está previsto na Lei 10.257/01, conhecida como Estatuto da Cidade. Todos os municípios com mais de 20 mil habitantes devem elaborar um Plano Diretor, o que engloba boa parte dos municípios e população brasileiros.
O planejamento da organização físico-territorial da cidade que resulta no Plano Diretor deve ser participativo, e as diretrizes e prioridades por ele fixadas devem incorporadas pelo Plano Plurianual (PPA), as Diretrizes Orçamentárias (LDO) e o Orçamento Anual (LOA).
De que forma o Plano Diretor pode impactar efetivamente a vida da população?
O Plano Diretor tem um papel muito importante na manutenção e implantação de políticas públicas voltadas para a gestão dos resíduos sólidos, gestão do esgotamento sanitário, para manutenção adequada do sistema de drenagem urbana, evitando-se alagamentos, enchentes, muitas vezes com óbitos e perdas materiais significativos para comunidade local num município. Tem importância numa melhor espacialização e distribuição urbana de equipamentos como postos de saúde, escolas, praças de esportes, áreas de lazer. Tem um significado na implantação de um sistema de transporte urbano e para mobilidade e melhor fluxo de veículos e pessoas no município. É por meio dele, com os instrumentos prescritos pelo Estatuto da Cidade e pela Constituição Federal, que as diversas camadas do tecido social têm a garantia de que a propriedade urbana cumpra sua função social e atenda às exigências fundamentais de ordenamento da cidade, à justiça social e às dinâmicas econômicas.
Enfim, um bom Plano Diretor impacta positivamente a vida da população local de um município.
É possível conciliar os diversos interesses em uma cidade para construir um planejamento que seja o melhor?
Todos os desejos e interesses são legítimos. O que temos de fazer, como consultores em um Plano Diretor, é identificar se isso realmente terá algum resultado na forma de melhorar a qualidade de vida das pessoas. Por exemplo: em um loteamento alguém está parcelando terra, mas pode, por outro lado, trazer espaço para moradias, pode equilibrar a economia local, onde o aluguel ou o valor de terrenos esteja elevado, melhora a demanda. As pessoas querem morar, é um direito legítimo, mas muitas vezes querem um local que tem um risco ambiental, ou seja, que não é apropriado.
Cabe a quem está elaborando o planejamento urbano e o arranjo territorial e estabelecendo as políticas públicas e diretrizes para o território municipal (Zona Urbana, Zona Rururbana e Zona Rural). Adotar além de uma leitura técnica, também, adotar uma leitura comunitária e participativa, dando voz a todos os segmentos representativos da sociedade civil local, a todas as representações, de forma que no final tenha-se um diagnóstico técnico, mas também participativo que espelhe os anseios gerais e específicos de toda sociedade e comunidade local.
O ITCO chega aos 18 anos com uma expertise que faz dele referência em outros Estados. A que o senhor credita isso?
Credito isso muito às pessoas. Tanto aos profissionais com os quais trabalhamos, a experiência que eles adquirem em cada Plano Diretor, em cada cidade, mas também às pessoas que vivem nas cidades, com quem aprendemos muito, que muitas vezes indicam pequenas soluções. Por isso é importante ficar atento, com os ouvidos abertos e entendendo que todos os desejos são legítimos. Acabamos desenvolvendo uma escuta com uma acurácia muito maior. Quem chega a uma cidade achando que sabe tudo e querendo coisas muito tecnológicas acaba não escutando e perdendo a oportunidade de oferecer uma solução que seria muito mais simples.
A posição de destaque conquistada pelo ITCO se dá pela capacidade de aglutinar os melhores e mais capacitados especialistas em todas as áreas do saber humano, pelo trabalho técnico obstinado e por uma governança que garante a aplicação dos mais eficientes processos, políticas e práticas empresariais, ao lado de uma bem estruturada compliance.
A cidade é um organismo vivo, que evolui constantemente. Quais são as tendências e como acompanhá-las?
A cidade é muito dinâmica e não tem como trabalhar sem essa escuta ativa – de olhar, entender, diagnosticar. Uma solução adotada com sucesso em uma cidade pode não servir a outra, que está em outro estágio ou tem uma cultura diferente. As coisas estão mudando muito rapidamente em função do acesso a informações gratuitas e até em tempo real. Então eu acredito que podemos fazer um excelente planejamento quando temos essa escuta ativa da cidade, entender que aquele cada problema é uma dor que precisa ser compreendida para buscarmos juntos a solução, nunca excluindo essas pessoas, mas com pertencimento.
Hoje fala-se muito em Cidade inteligente, que integra a tecnologia da informação e comunicação (TIC) para otimizar a eficiência das operações e serviços da cidade e conectar-se aos cidadãos. A tecnologia da cidade inteligente permite que as autoridades da cidade interajam diretamente com tanto a infraestrutura da comunidade e da cidade como monitorem o que está acontecendo e como a cidade está evoluindo, melhorando o desempenho e propiciando desempenho e interatividade dos serviços urbanos, reduzir custos e consumo de recursos e aumentar o contato entre cidadãos e governo.